12 de março de 2010



"Páro o relógio. Bato com ele contra as paredes, esmago-o, deixo-o cair, calco-o. Não quero ler o tempo. Não quero ve-lo, nem sabé-lo, nem pensá-lo. Não quero vê-lo porque sei que demorará horas. Horas em que o prazer será nulo, em que o ar não será lívido. Quero gritar, gritar com o contra-relógio do meu coração. Sim, tenho um contra-relógio no meu coração. Ele parou. Também parou. Também o parei. Não quero ver que os segundos te levaram, ou que as horas te fizeram rir. Quero esconder-me por baixo de um lençol e dormir. Dormir para matar o tempo. Homícidio calculado ao mais reduzido pormenor. Vai dar certo. Liberta-lo-ei, um dia. Fa-lo-ei pedir-me desculpa por toda esta insegurança. Vou girar na esfera do sono, até me apetecer liberta-lo. Até ter um motivo para o fazer. Vou esmaga-lo no regaço e esquecer-me do ar lá fora. Vou escrever "morte" em todos os pontos do plano frontal do meu orgão vital. Vou quebrar as artérias e cerrar os dentes. Vou desenhar borrões negros e pintar os olhos carregados. Vou sorrir nas fotografias para parecer bem. Mas a morte cardíaca, está aqui, até um dia qualquer."

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